A Gruta das Encantadas está envolta em fantasias sobre lindas mulheres que atraem os homens nas noites de luar. Sem ruas, a ilha é pródiga de trilhas que conduzem a todos os lugares.

Contam os Caigangues do Paraná que há muito tempo atrás, na Praia das Conchas, ao sul da Ilha do Mel, na gruta das Encantadas, viviam lindas mulheres que bailavam e cantavam ao nascer do Sol e ao crepúsculo. O canto delas era inebriante, dormente e perigoso para qualquer mortal. Se um pescador as escutasse, por certo perderia o rumo de sua embarcação, indo bater nas rochas e naufragar.




Entretanto, certa vez um índio corajoso e destemido aventurou-se a tentar se aproximar delas. Colocou-se à espreita no alto do rochedo. Quando os primeiros raios multicoloridos de luz despontavam ao leste, o jovem começou a ouvir a suave e doce melodia proveniente do interior da gruta. E mulheres nuas, desenhadas de sombras, foram surgindo. À medida que as bailarinas alcançavam a boca da gruta, o canto tomava mais ênfase, mais intensidade:

O canto dizia: ” Passe com cuidado a ponte. Viva bem com os outros; assim como eles vivem bem, você também pode viver. Lá você há de ver muita coisa que já viu aqui em minha terra, assim como o gavião. Teus parentes hão de vir te encontrar na ponte e te levarão com eles para tua morada.”

Estranhamente o índio não adormeceu e, pelo contrário, não desgrudou o olho do belo ritual. As misteriosas moças eram dotadas de tão rara beleza, nuas e com longos cabelos de algas, que o intruso acabou fascinado por uma das dançarinas, a que tinha os olhos cor de esmeralda. Tal era o seu fascínio, que despencou do rochedo, ganhou aos trambolhões a prainha, metendo-se de permeio na farândola, acabando de mãos dadas com a sua escolhida. Declarou-se apaixonado por ela, e confiou-lhe o seu desejo de permanecer a seu lado por toda a eternidade. Ela disse que para os dois ficarem juntos, ele teria que morrer. O índio aceitou.



Mãos entrelaçadas, ao canto fúnebre das dançarinas, os jovens entraram na água, e quando desapareceram, já o sol era vitorioso. As Encantadas sumiram nas águas profundas, para nunca mais aparecer. E desde então a gruta está solitária, e nela ecoam e se quebram os ecos dolentes e eternos do mar.

As Encantadas são Deusas-Sereias do mar, e como tais nos mostram o elemento destruidor negativo que pode se manifestar quando seguimos irrefletidamente intuições e inspirações. Isso nos parece familiar quando pensamos nos artistas e pessoas criativas que se destroem por darem ouvido a essas vozes espectrais, deixando-se arrastar pelas “Sereias” que habitam a nossa psique. Já outros, entretanto, são capazes de usar a intuição de forma positiva e, por vezes, uma torrente de energias criativas parece derramar-se deles.