A Secretaria de Estado da Saúde contratou especialistas que são referência mundial em salvamento aquático para um curso de capacitação das equipes de serviço que irão trabalhar no Centro de Recuperação de Afogados. O centro funcionará em uma sala de trauma no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos. O local contará com equipamentos de suporte de vida avançados e equipe especializada para receber as vítimas de afogamento de todo o Litoral, das 8 horas às 20 horas, durante o verão.

“É uma iniciativa pioneira e inédita do Estado. Estamos criando um sistema integrado para atender vítimas de afogamento, com protocolo específico, fluxo e equipe capacitada em todo o processo, desde o resgate da vítima, o transporte, até o atendimento especializado no Centro de Recuperação”, diz o secretário da Saúde, Michele Caputo Neto.

A iniciativa de criar o Centro de Recuperação de Afogados tem parceria e apoio do Corpo de Bombeiros, que é responsável pelo monitoramento e salvamento na orla paranaense. Participam do treinamento, esta semana, mais de 180 pessoas, sendo 60 bombeiros guarda-vidas. Também fazem parte do grupo médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem de Curitiba e do Litoral, condutores e equipes do Siate (Sistema Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergências), da central regional do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e do Grupamento Aeropolicial – Resgate Aéreo (Graer).

“Reunimos esses profissionais para que todos tenham conhecimento completo do sistema que estamos ajudando a criar no Paraná, assim como existe no Rio de Janeiro, para que o diálogo entre o atendimento pré-hospitalar e hospitalar melhore o atendimento ao paciente”, explica o médico David Szpilman, coordenador do curso de emergências aquáticas.

Ex-coronel do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e diretor da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), Szpilman é referência mundial no assunto. Segundo ele, o afogamento é o principal foco do treinamento, porque é uma das maiores causas de morte de crianças e jovens no País, embora represente apenas 30% dos atendimentos na orla.

Szpilman explica que a sistematização do fluxo de atendimento ao afogado é fundamental, porque o cérebro pode aguentar apenas entre 4 e 6 minutos após uma parada cardíaca. “O fluxo adequado no atendimento, com um corpo de ação que fala a mesma linguagem, reduz o tempo de resposta e permite manter a vida por mais tempo, aumentando a chance de sobrevivência e reduzindo possíveis sequelas”, afirma o especialista.

O conhecimento dos procedimentos é fundamental para que, ao fazer um resgate, por exemplo, o guarda-vidas esteja preparado para avaliar o grau de gravidade e encaminhar a vítima ao Centro de Recuperação de Afogados, para um cuidado maior. Ao receber o paciente, a equipe do centro irá estabilizar sua condição geral e colocá-lo em observação por duas ou três horas, até a alta hospitalar. Caso seja necessário, o paciente será transportado ao centro de referência da região, que é o Hospital Regional de Paranaguá.

“Com equipe especializada e treinada, vamos oferecer atendimento mais qualificado para as vítimas, porque o sistema de atendimento estará melhor organizado, evitando a sobrecarga nas portas de emergência de todo o Litoral e reduzindo os custos do sistema”, explica Beatriz Monteiro de Oliveira, diretora de Políticas de Urgência e Emergência da Secretaria de Estado da Saúde.

CAPACITAÇÃO — O curso de emergências aquáticas tem 21 horas, divididas em módulos de aulas técnicas e práticas de prevenção e atendimento a afogamentos (em rios, piscinas, praias etc) e também orientações para casos de queimaduras, mergulho em águas rasas, que provocam traumas, incidentes com animais como arraias e águas vivas, lesões diversas e até pessoas alcoolizadas.

Para o tenente-coronel André Almeida, que é também médico do Siate e participou do treinamento, a capacitação das equipes vai melhorar significativamente o atendimento aos veranistas e aumentar a segurança para as equipes de salvamento e resgate. “Faltava garantia na retaguarda de que o atendimento à vítima teria a continuidade adequada. Agora teremos mais certeza, porque será criada uma rede de atendimento completa”, avalia Almeida, que tem 22 anos de serviços prestados ao Siate.

Apenas na temporada passada os bombeiros registraram 1.200 resgates de afogados em diferentes graus no litoral e 13 mortes. No Brasil, ocorrem aproximadamente 7 mil mortes por ano por afogamento. Mais de 70% ocorrem em água doce e a maioria das vítimas é do sexo masculino. A orientação para toda pessoa que vai entrar em um corpo d’água é procurar sempre locais onde há um guarda-vidas.

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