Quase 300 árvores nativas da comunidade Vila Brasília, na Unidade de Conservação (UC) da Ilha do Mel, em Paranaguá, no Litoral, foram catalogadas de forma colaborativa por meio de uma parceria entre o Instituto Água e Terra (IAT), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a University of Eastern Finland (UEF), de Joensuu, na Finlândia.

O projeto faz parte do programa de mestrado da estudante Silvia Ureta, de 27 anos, engenheira ambiental guatemalense graduada na Universidade Rafael Landívar, na Cidade da Guatemala. A expedição pela ilha, realizada entre junho e julho deste ano, resultou em uma robusta base de dados que será utilizada para fomentar ações futuras de conservação ambiental na região.

A iniciativa que vai desencadear em novas ações de sustentabilidade em um dos mais relevantes pontos turísticos do Paraná é fruto da persistência de Silvia. Ela foi uma das selecionadas para participar do projeto de mestrado da UEF Master of Science in European Forestry (Mestrado em Ciências Florestais Europeias), uma proposta bastante concorrida, realizada de forma integrada por universidades da Alemanha, Áustria, Romênia, França, Espanha e Finlândia, além de programas associados de instituições do Brasil, Canadá e China.

Como parte da grade curricular do programa, os estudantes devem passar por um período de estágio prático de dois meses, podendo escolher entre múltiplos locais de atuação conectados com as entidades parceiras da iniciativa. Silvia foi a primeira mestranda que decidiu fazer o estágio na Ilha do Mel, uma experiência que se tornou viável também pela parceria entre IAT e UFPR.

“Eu escolhi a Ilha do Mel porque queria trabalhar a floresta com um enfoque social, já que é importante entender como a dinâmica de humanos pode promover ou interferir na conservação ambiental. E o Brasil foi um dos únicos locais que oferecia a oportunidade de trabalhar o estágio com essa temática”, afirma a mestranda.

Para os procedimentos, ela se baseou em um inventário das espécies de árvores existentes na ilha e também em informações das comunidades de moradores da Unidade de Conservação, levantamento organizado pelo IAT. Por conta do tempo limitado da pesquisa, decidiu focar nas espécies florestais de 41 dos 97 lotes da Vila Brasília, selecionados por amostragem, com a anuência dos moradores locais.

“No levantamento foram registradas as características físicas de cada árvore, como espécie, localização, altura e diâmetro. Depois, nós instalamos em cada árvore uma placa com um número de registro individual, para que seja possível consultar as informações de cada planta de forma digital”, explica Silvia.

Ao final do período de estágio, as informações coletadas pela estudante foram transformadas em uma base de dados que será utilizada pelo IAT para guiar futuras ações de conservação na região. No total, foram catalogadas 299 plantas, um valor que corresponde a 42% das árvores da comunidade.

“Por meio desse levantamento, nós vamos poder monitorar a quantidade de árvores na ilha com mais facilidade. Saberemos se as árvores estão sendo cortadas de forma irregular nas comunidades e a quantidade de espécies que devemos plantar para manter a região sempre arborizada. O futuro da conservação nessas comunidades depende de pesquisas como essa”, comenta o engenheiro florestal do escritório regional do IAT do Litoral Leandro Duarte, que também auxiliou na pesquisa.

CONSERVAÇÃO – Uma das principais considerações da mestranda durante o período de pesquisa tem relação com a qualidade da conservação da Ilha do Mel. “Ao observar a frequência da vegetação da Vila Brasília, nós avaliamos que a quantidade de árvores na região é similar à da floresta natural, o que mostra que as pessoas estão colaborando para preservar a fauna e a flora locais”, diz.

Para o diretor de Patrimônio Natural do IAT, Rafael Andreguetto, o alto índice de preservação do local tem relação com as ações de preservação realizadas pelo IAT, órgão gestor da Unidade de Conservação. “Hoje, a conservação da Ilha do Mel é uma das características que torna o local um dos grandes atrativos turísticos do Estado. E ações como essa pesquisa são imprescindíveis para manter esse nível de preservação da biodiversidade”, ressalta.

E a ideia é que a pesquisa de Silvia seja o primeiro passo para a sequência da digitalização das árvores das outras comunidades da ilha, como explica o professor de Engenharia Florestal da UFPR, Renato Robert, um dos responsáveis pelo intercâmbio com a UEF. “Nós queremos continuar a parceria com a UEF para trazer mais estudantes nos próximos anos para contribuir com a catalogação digital. A colaboração entre as instituições é algo que fortalecerá ações ambientais executadas pela universidade no futuro”, afirma.

ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO – Além das árvores, a mestranda aproveitou o período de estágio para conduzir mais duas iniciativas na região. A primeira foi um levantamento sobre a quantidade de bichos de estimação presentes na comunidade, já que a proliferação desenfreada desses animais também pode impactar o meio ambiente.

“Nós descobrimos que dos 41 lotes, 16 possuem cachorros ou gatos, e apenas três possuem animais castrados. Os moradores no geral se mostraram interessados em castrar os bichos de estimação, mas acham o processo muito difícil por terem que viajar para outras cidades para encontrar um veterinário. Isso é algo delicado em uma reserva ecológica, porque se não houver um controle teremos muitos animais abandonados, e eles podem impactar o meio ambiente negativamente ao transmitir zoonoses”, diz Silvia.

Para colaborar e diminuir o impacto na localidade, o Programa Permanente de Esterilização de Cães e Gatos, mais conhecido como CastraPet Paraná, prevê ações para a Ilha do Mel durante o quarto ciclo do projeto, previsto para começar nos próximos meses. Em três estágios diferentes, o CastraPet já beneficiou 75 mil animais em todo o Estado desde 2019.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – A outra linha de atuação foi um trabalho de educação ambiental desenvolvido em uma das escolas do Litoral. A parceria desencadeou em palestras e também na elaboração de um material didático sobre as espécies de árvores da Ilha do Mel, com suporte técnico do Instituto Água e Terra.

“Esse material didático surgiu porque percebemos que muitos dos moradores, em especial as crianças, não conheciam as espécies nativas da ilha. As professoras da escola apreciaram muito o material, já que é uma forma de promover a consciência ambiental nos alunos, de incluí-los na natureza”, afirma Silvia.

Fonte: AEN/IAT.

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